Bem Vindo

Um espaço para troca de experiências, reflexões, dúvidas referentes ao universo dinâmico e surpreendente do inconsciente.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

A Culpa pelos Maus Sentimentos:





Outro dia uma jovem estava me relatando a raiva, ou melhor, o ódio que sentia da sua mãe. Ela a responsabilizava  por ainda ser tão infantil, imatura, sem nenhuma segurança para fazer escolher e tomar as suas próprias decisões na vida.


Resumindo rapidamente a história, esta progenitora sempre foi uma figura controladora e superprotetora com a filha, não possibilitando espaço para esta se desenvolver enquanto um ser independente e distinto dela. Portanto a filha necessariamente deveria seguir  os mesmos passos da mãe, e caso ameaçasse tomar rumos diferentes do que havia sido traçado para ela, sofria ameaças veladas de abandono, de perda de amor, obrigando-a a recuar.


Como alguns exemplos, na sua fase escolar com aproximadamente nove ou dez anos de idade, num dos tantos trabalhos de casa solicitados pela escola, era preciso fazer um cartaz com figuras e descrevendo um pouco sobre a geografia de um lugar, algo assim. A jovem tinha uma grafia boa para sua idade, mas não era o ideal de sua mãe, que exigia um desenho impecável ao escrever o título do trabalho em letras grandes na cartolina. Como a menina não atingia este ideal após duas tentativas, a mãe resolveu fazer o título, afirmando que ela não conseguia desenhar tão bonito quanto a mãe e por isto não poderia fazer este tipo de trabalho.


Em toda atitude da filha considerada desagradável pelo ponto de vista da mãe, era imediatamente condenada por esta com uma postura indiferente e de distância, ameaçando a filha de perda de amor (já que era o sentimento mais presente no momento que percebia.)


Voltando ao início, a jovem relatava os sentimentos odiosos que surgiam em alguns momentos de convivência com a mãe, hoje em dia, por invadir a sua vida, inclusive ditando com quem precisa namorar, ou quem ela não pode se relacionar pois irá sofrer muito e se arrepender depois. Esta moça ao me relatar estes sentimentos, ao mesmo tempo apresentava uma culpa muito grande, já que não aceitava ter sentimentos de ódio dirigidos a própria mãe.


O que lhe falei ser absolutamente lógico e coerente sentir este ódio, esta raiva diante do que acredita ter sofrido como consequência em sua vida, e que ainda sofre. O sentir não é sinônimo do realizar, do concretizar, do fazer, se sinto ódio e penso até na morte daquela pessoa, não necessariamente ela vai morrer         devido a esta ideia. Mas o interessante que nos acomete, é esta sensação onipotente que temos, assim como  quando éramos bebês, que o pensamento extrapola o seu limite, invadindo o externo, o mundo fora, se materializando.


Portanto, a jovem acreditava que caso mantivesse aquele ódio dirigido a mãe, seria responsável por qualquer agravo ou dano que a mãe viesse sofrer, inclusive a sua morte. Diferentemente de alguns casos que sentem a raiva e resolvem em vias de fato, como a mãe que mata um filho, ou filho que ataca a mãe. Nestes casos encontramos graves distúrbios mentais ou psicopáticos que necessitam de reclusão e tratamento.


Com exceção destes casos, o pensar, sentir por si só não será responsável por nenhum acontecimento maléfico com aquela  pessoa de que estamos em desagrado ou até não gostamos, apesar de algumas crenças, religiões afirmarem o contrário, assim como o pensamento negativo, ou a inveja que pode atacar e até destruir o outro ou nós mesmos. Mas tudo isto faz parte do aspecto onipotente presente em todos nós.


Podemos sentir raiva, ódio de alguém, podemos portanto identificar e entendermos os sentimentos para assim conseguirmos lidar e viver melhor com estes percalços de nossa vida.