Bem Vindo

Um espaço para troca de experiências, reflexões, dúvidas referentes ao universo dinâmico e surpreendente do inconsciente.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

"O Complexo de Édipo:"

Freud desenvolveu a teoria sobre o Complexo de Édipo, aproveitando a história da mitologia grega sobre o Édipo que mata o pai por paixão pela sua mãe. Tendemos a exemplificar a teoria quando não possuímos um conhecimento específico do assunto, e portanto escuta-se muitas vezes que a culpa é sempre dos pais, ou apenas da mãe, que o menino é apaixonado pela mãe, já a menina é toda o pai.


Há fundamento e realmente esta tendência de identificação com um dos genitores, mas há uma correção a ser feita em torno desta frase típica e talvez mais cômoda e infantilizada do próprio sujeito que culpabiliza os pais por tudo de bom ou de ruím que passa em sua vida. Penso até que não só com os filhos há esta tendência  mas também com os próprios pais, família, escola e sociedade.


O Complexo de Édipo passou a ser o vilão dos traumas, dos comportamentos inadequados, dos sintomas, das neuroses, ou psicoses, enfim busca uma explicação sempre nele. Freud tem um artigo que se denomina: "A Dissolução do Complexo de Édipo", onde explica o processo e a sua possível dissolução. Na verdade o Complexo não se dissolve nunca!!!!! Pois verifica-se adultos fixados nesta fase infantil, na qual, homens com ligação muito estreita com a mãe, ou com a esposa, namorada, assim como ocorre com as mulheres, que podem apresentar dificuldade no relacionamento ou pelo seu comportamento ou por suas escolhas de um parceiro.


Há sim, o Édipo ainda muito presente na vida do ser adulto, mas há também o próprio indivíduo, a sua própria característica de ser e de estar no mundo. Observa-se muito bem nas crianças pequenas, onde expressam o seu mundo interno, as suas fantasias de maneira mais clara e direta comparada com o adulto.


Uma criança que por exemplo está desfraldando, pode retroceder no seu processo, como a perda do controle da sua urina, sujando a roupa com mais frequência, com o intuito de chamar a mãe para perto de si, por estar vivenciando a sua ausência, a sua perda. Frequentemente acontece no momento a necessidade da mãe de se distanciar dos cuidados integrais do filho por decorrência da retomada de sua vida pessoal ou profissional.

Há criança que vivenciará como uma perda maior do amor da mãe, e buscará armar defesas rígidas contra este sentimento, assim como uma outra criança conseguirá ser mais complacente com ela mesma e com a mãe, armando defesa mais amena e não tão prejudicial assim.


Portanto em decorrência desta experiência vivida internamente, haverá adulto que se apresenta boicotando toda a possibilidade de estabelecer um relacionamento bom com um parceiro (de forma inconsciente, ou seja não tem a consciência deste ato), como há outro que consegue estabelecer este relacionamento favorecendo o aspecto amoroso inerente. Encontramos adultos que vivenciam a falta em alto grau, onde por mais que o outro se disponibilize buscando não faltar oferecendo uma continência, o sentimento de abandono é o que prevalece.

Portanto o Complexo de Édipo permanece e se liga a muitos complexos, comportamentos, atos, sintomas do sujeito, mas também há a participação dele principal neste desenho de sua vida. Não basta apenas nomear a dificuldade do outro, precisa-se primeiramente auxiliá-lo a identificar e assim a lidar com as dificuldades percebidas e sentidas, possibilitando uma melhor reconstrução do seu caminhar no mundo.

domingo, 18 de setembro de 2011

Criança Hoje, Adulto Amanhã:

Quem já não ouviu a célebre frase: "Precisamos investir nas nossas crianças de hoje que se tornarão adultos amanhã!". O que se entende em investir? Acredito ser este o ponto nodal para o entendimento desta mensagem, pois pode-se investir financeiramente, e ou emocionalmente. Muitas das vezes o investimento financeiro é o que predomina na relação como um suporte, um preenchimento de uma falta, ou de uma culpa.


Falta da mãe ou pai  por não estar presente seja por uma rotina profissional estressante, ou pelo seu oposto, está em casa, mas ocupado com outros afazeres que dispendem tempo "faltando" a atenção à criança. Percebe muitas vezes nestes casos, crianças preenchidas com roupas, brinquedos, computadores, celulares, mesadas ou semanadas, enfim, repletas de coisas, mas carentes de afeto, atenção, apoio, compreensão, educação.


Desde o nascimento a criança é entregue aos cuidados integral materno, oferece-se o peito, a chupeta, a mamadeira por necessidade de sobrevivência física e um suporte emocional devido as exigências de adaptação ao novo mundo externo. Mas quando se inicia alguma autonomia através do desenvolvimento do andar, da fala, pode-se começar a abrir mão de algumas coisas até então essenciais,  como o peito, a mamadeira, a chupeta, a fralda.


Com o sentimento de culpa pela falta os pais correm o risco de manter a criança infantilizada através da continuação destes cuidados prestados ao bebê, através do uso continuado da chupeta, ou da mamadeira e até do oferecimento de comida constante, estimulando uma possível obesidade futura.


Percebo que a frequência de mesadas, ou semanadas também refere-se a uma falta da presença dos pais acarretando numa infantilização da criança. É transmitida à esta a mensagem que não precisa trabalhar, se esforçar para ganhar o dinheiro, ou seja, não há um empenho, uma motivação, simplesmente ganha. Em vez dos pais estimularem os filhos a conseguir alcançar os objetivos que almejam, já que na vida sem esforço, dedicação, empenho, responsabilidade não se consegue crescer, ser adulto, independente.


Acontece em alguns adultos que ao atingirem a maturidade ainda se encontram dependentes financeiramente dos pais, ou adultos obesos, alcóolatras, dependentes químicos. Deixo claro que não defendo a idéia da responsabilidade integral dos pais (que seja: "Tudo é culpa da mãe!") pela educação ou pela saúde emocional dos filhos, mas acredito na sua maior contribuição, além de  fatores genéticos, uma predisposição.


Penso portanto que todos os atos dos responsáveis perante a criança, o cuidado prestado precisa ser muito bem respaldado numa coerência e responsabilidade, que seja, questionar a importância e a real necessidade de um dinheiro frequente, ou de um celular, por exemplo. Assim como, se o meu filho já tem idade para sair de casa sozinho, como ir à escola, então acredito que o celular pode ser útil como forma de um contato, de uma segurança, além de haver um controle, é claro. Se o meu filho tem responsabilidade, sabe cuidar de suas próprias coisas, entende o valor do dinheiro, então posso combinar uma mesada, por exemplo.


Enfim o adulto precisa entender qual é a verdadeira reclamação da criança, qual a demanda que se encontra por detrás do pedido de um brinquedo, ou uma roupa da moda, dinheiro, pois pode estar reclamando atenção, escuta, olhar, entendimento, afeto dos pais, ou responsável. Esta criança frustrada, carente da presença emocional, pode tornar um adulto consumista amanhã, buscando através do comprar preencher um vazio eterno sentido.


terça-feira, 6 de setembro de 2011

A Mente e o Corpo:

Costumamos separar a mente do corpo, acreditando serem dois organismos distintos e incomunicáveis entre si. Em contraposição falamos de cansaço quando queremos realmente dizer angústia, ansiedade ou depressão. Existem outros termos que recorremos ao corpo quando sentimos algo, como por exemplo: "Fulano é feio que dói!", ou "Estou morta de fome!", "sinto um aperto no coração. Que vazio que sinto dentro de mim".


Inconscientemente estamos frequentemente utilizando o corpo para retratar um estado psíquico, mental, um sofrimento. Desde que nascemos, o corpo está entrelaçado à mente, sendo inviável a vivência de um sem o outro. O bebê com o seu desenvolvimento físico em concomitância com o mental. O choro é uma reação física de que o mental está frágil necessitando de apoio, de suporte. Portanto, a cólica também pode ser facilitada pelo desespero do bebê em se sentir abandonado pela mãe.


Não existe apenas o mental, assim como não é só o orgânico. As doenças podem estar inseridas a fatores hereditários, genéticos, mas é fato que não há uma regra para se desenvolverem num indivíduo. Muitas vezes, o encadeamento de uma doença é manifestada no momento em que o indivíduo mais ignora, ou nega a existência de uma mente, de sentimentos, ou que seja, de um inconsciente.

Há também aqueles casos de pessoas muito "saudáveis", que raramente sentem até uma dor de cabeça, e se vangloriam deste feito. "Quando um indivíduo goza de boa saúde, naturalmente nenhuma dor se apresenta a ele. Mas a própria ausência de sofrimento pode ser enganosa. Para alguns indivíduos, qualquer representação de sofrimento afetivo, ou do próprio sofrimento físico, é negada e a seguir recalcada, ou mesmo recusada e destruída. A dor passa a inexistir. Essa ausência conduzirá o sujeito a disfunções psíquicas e somáticas importantes,.....". (Joyce Mc. Dougall).


Estes indivíduos aparentemente saudáveis em algum momento de suas vidas acabam por adquirir uma doença grave, séria, necessitando de cuidado extremado, podendo até ocasionar o seu falecimento. Quem não viveu ou teve contato com casos assim? Como aquela pessoa que de repente vem a óbito devido a um enfarto ou um derrame.


Existe o código genético, a predisposição, mas se o indivíduo estivesse conectado com a sua mente, com a sua emoção, será que tais situações não poderiam ser evitadas? A psicossomática vem para atentar a importância da saúde mental visando a orgânica e vice-versa.


Em vez de ingerir medicação, como um antidepressivo por exemplo, para a queixa de cansaço, o ouvir,  oferecer a escuta, a atenção devida, o apoio, a fala, pode propiciar uma melhora desta condição sem a intervenção da droga. Mas há situações que a medicação é precisa e pontual na contribuição do estado mental também.


Precisamos entender, ou melhor reconhecer que somos humanos, compostos por um mecanismo físico complexo, mas mental também. Que muitas manifestações físicas são pedidos de socorro do estado mental fragilizado, sofrido, que busca atenção, apoio, escuta.