Bem Vindo

Um espaço para troca de experiências, reflexões, dúvidas referentes ao universo dinâmico e surpreendente do inconsciente.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Sobre o Blog:

Senti a necessidade de esclarecer melhor a intenção do surgimento deste blog, já que percebi o seu caráter multifacetado. Iniciei abordando a origem da psicanálise, a sua teoria, prática, e depois acrescentei o assunto "mãe de primeira viagem", o que pode gerar algumas confusões da intenção do blog.


A idéia original era apenas descorrer sobre a psicanálise, mas percebi a necessidade pessoal de explorar o campo maternidade dentro de um aspecto psicanalítico, compreendendo que uma vivência pode ser complementar a outra. Meus maiores interesses no momento abarcam estes dois universos, não significando a inexistência de abrir discussões para outras temáticas, dentro da psicanálise. A intenção se torna esta, a medida que também surjam outros interesses.


Dentro de uma particularidade e individualidade a maternidade é muito beneficiada e melhor compreendida neste aspecto subjetivo, psicológico, emocional, pois os sentimentos desconhecidos conscientemente por nós contaminam frequentemente a nossa vida pessoal, familiar, profissional, educacional e social. A importância de nos conhecermos verdadeiramente, realmente, tomando posse do nosso eu que não apenas se manifesta no mundo externo, mas que inclusive participa e se localiza também em nosso interior, no mundo interno e desconhecido até então.


Assim como ainda há muito que estudar e conhecer acerca do funcionamento do cérebro, pois apenas tomamos posse de uma parte dele, assim é com o nosso "eu", ego, que há muito para explorar e penetrar, nos auxiliando numa melhor qualidade de vida, numa maior posse de nós mesmos, causando um maior domínio e controle dos nossos impulsos, sentimentos, comportamentos que porventura nos desagradam, nos impedem que sejamos mais felizes e realizados pessoalmente.


Penso na importância da psicanálise em nossa vida em geral, seja enquanto mães, filhas, mulheres, esposas, amantes, profissionais, assim sem exclusão, aos homens também que na modernidade podem realizar múltiplas funções em suas vidas, ou pela necessidade de ajudar a esposa em casa, ou por serem pais solteiros, ou viúvos, ou separados, apesar de um número ainda pequeno destas situações.


A psicanálise é para todos sem excessão, assim como o seu interesse, exploração, estudo, conhecimento é amplo em seu universo. Portanto abordo no momento a mãe, o bebê, o filho, como posso incluir, o pai, a criança, a família, a educação escolar e/ou familiar, a amizade, a separação, a formação de novas famílias, a sociedade, o indivíduo, e por aí vai.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

O Filho Não Me Pertence Apenas:

Chegou o momento de retomar a rotina anterior ao nascimento do bebê, que seja o trabalho, o estudo, ou um outro projeto ou interesse iniciado, ou desejado e adiado até então. Mas algo mudou; foi o sentimento, o estímulo, foi a chegada de uma nova vida, e realmente nova!!!! Não somos mais as mesmas, estudantes, profissionais, mercantilistas, individualistas, amantes apenas,...., somos MÃES também e principalmente.


Apesar do cansaço da nova rotina, das noites mal dormidas, da refeição que esfria no prato, ou não consumida inteiramente, tem-se a sensação de bem estar, de completude, de um colorido vivo no dia-a-dia. O prazer de acompanhar o seu bebê, de alimentá-lo, acalentá-lo, reconfortá-lo na dor, na fome, no desespero cria uma sensação de força, grandeza, de suficiência, de poder, até antes nem imaginável, apenas na fala de nossas mães.


Mas a vida prossegue, o tempo não pára, o ser humano cresce, amadurece e sai para a sua exploração ao mundo, vai em busca de algo externo, movimenta, se desprende, até retornar ao início de uma vida e tudo começa de novo. Assim aconteceu conosco, mães e acontecerá com os nossos filhos. Somos auxiliadoras de vidas que serão entregues ao mundo, não nos pertencem, por mais dolorido esta realidade.


A dificuldade deste enfrentamento encontramos em várias famílias, em vares lares, com crianças de quatro anos usando ainda chupeta, ou presas a fralda, ou ainda buscando o peito para o alívio de suas angústias e temores. Crianças que não conseguem crescer pela contribuição das mães ou seus responsáveis que temem a separação, a perda do vínculo afetivo, emocional.


Encontramos diversas justificativas plausíveis, racionais que impedem a retomada de nossas vidas individuais, particulares. Queremos permanecer "grudadas", juntadas em nossos filhos, em nossos bebês. Acreditamos que o retorno de nossas atividades pode até matá-los pela nossa ausência física, já que ninguém é tão suficientemente bom como nós. Ninguém oferecerá a proteção, o carinho, o conforto, o acalento e até o alimento suficiente para a existência e bem estar do filho. A consequência desta crença se projeta naquelas crianças crescidas cronologicamente mas pequenas emocionalmente.


Um exemplo pode ocorrer no desfralde, no momento do aprendizado do tirar a fralda, que pode ser um processo rápido, fácil, ou difícil e demorado, já que a angústia envolvida contribue neste processo de amadurecimento e consequente separação da relação filho e mãe. A criança inicia o seu primeiro dia sem fralda, acompanhado de muitas roupas sujas, muitas trocas, ou seja, muito trabalho. No fim de semana, a mãe para o seu conforto e o da criança (em sua concepção), decide recolocar a fralda evitando imprevistos "desagradáveis" na rua, pensando pela falta de sanitário, ou inclusive visando uma higienização adequada.


Intelectualmente a mãe encontra respaldo para a sua negação perante o crescer do filho, e assim o seu afastamento dela, já que as necessidades dele não dependem mais tanto da sua ajuda e presença constantes. Emocionalmente, a mãe está retardando e até impossibilitando esta criança de viver no mundo além, e inclusive sem ela, através desta pequena ação tão bem justificada e compreensiva racionalmente.


E assim ocorre com as mães que podem adiar ou até mesmo não retornar às sua atividades pessoais, arrumando justificativas que privilegiam o bem estar do seu filho. A verdade é que após o surgimento desta nova vida, sempre estaremos atreladas nestas desculpas, pois hoje é o desmame, depois o desfraldar, amanhã será o trabalho da escola, ou as aulas particulares, ou o esporte, a natação, o balé, a faculdade, e continua..... Portanto é necessário e saudável nos desprendermos em parte liberando a outra parte para a vida, o mundo. Podemos ser boas mães verdadeiras, e boas profissionais, mulheres. É possível buscar um equilíbrio, um meio termo, auxiliando e libertando o nosso filho das nossas amarras, medos, angústias e superproteções, relembrando que na verdade ele não é meu, pelo menos não apenas, mas pertence inclusive e necessariamente ao pai, aos avós, à babá, à empregada, à professora, à escola, à sociedade, ao mundo.


quarta-feira, 8 de junho de 2011

O Bullying:

Há pouco postei sobre uma breve observação de uma criança, que precoce manifesta comportamentos significativos de um pedido de ajuda, referente ao seu bom desenvolvimento emocional. Portanto uma omissão clara de todos os responsáveis e participantes da criança sendo a família, a escola, a sociedade. Coincidentemente foi noticiado pela mídia o caso de um aluno agredido por outro, de mais idade, em uma escola renomada na zona sul do Rio de Janeiro.


A família busca negar o sofrimento, o mal estar da criança, por uma culpa e responsabilidade sentida pelo seu filho apresentar um comportamento agressivo, arredio, ou até "anormal" perante o meio em que vive. Pois não se inicia fora de casa, mas sim neste convívio familiar, através de birras constantes, pequenas mentiras faladas, intensas mal criações, enfim atos contribuidores de conflitos e discórdias. Pode ocorrer o seu oposto, como uma quietude, tranquilidade (para nós, pais), um isolamento, um silêncio. Mas nunca derrepente, mas sim já na tenra infância conforme relatei.


Inicia-se como um fato sem muita importância, e até corriqueiro sem muita consequência, mas que com sua continuação pela falta da atenção e cuidado devido tende a acarretar problemas maiores futuros. A criança desde cedo precisa ter orientação de educação, limites, socialização, nos quais os pais transmitem através dos seus atos, das suas formas de se relacionarem e conviverem com o meio externo. As primeiras identificações, as primeiras figuras amadas, idealizadas para a criança são os pais, e depois dirige-se  à família, aos professores, aos amigos, à escola.


Os pais se excluem do comprometimento do problema pelo viés do mecanismo de defesa da negação. A escola entra no seu papel de manter-se financeiramente equilibrada através do seu quantitativo de aluno, negando também, de forma consciente, o problema manifesto. Já que os pais não querem se apossar do mal estar, então vamos tamponá-lo, vamos amenizar os possíveis danos causados compactuando com a negação, assim como, através da conhecida e corriqueira frase: "Não foi nada de importância. Está tudo bem. Criança se machuca mesmo, pois corre, pula, brinca,....".


Muito saudável a criança correr, brincar, pular e cair, assim como implicar com outra criança pela posse de um brinquedo. Mas interferimos nestas situações, orientamos e mostramos os perigos existentes e portanto os cuidados necessários a se tomar evitando acidentes, expondo outras alternativas saudáveis para a resolução de um conflito, ou de um impasse, de uma construção de relação harmoniosa, amorosa, apesar da existência das diferenças entre os pares.


Qual o papel dos pais, da família, dos educadores no desenvolvimento emocional de uma criança se não amá-la, apoiá-la nas suas dificuldades, na sua imaturidade inerente no lidar com o mundo? Diferente de superprotegê-la, de mimá-la, de acatar suas vontades cedendo com a intenção de calar o seu berro, ou choro pela intolerância e impaciência alcançados pelo cansaço. A criança testa o amor do adulto através do seu comportamento insistente, pois precisa reafirmar a presença, o cuidado, a proteção da mãe, do pai, ou de outro cuidador.