Bem Vindo

Um espaço para troca de experiências, reflexões, dúvidas referentes ao universo dinâmico e surpreendente do inconsciente.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

A Dependência da Análise:

Como seres humanos que somos, dependemos desde que nascemos do outro visando a nossa sobrevivência. Dependemos do seio da mãe, do seu leite que nos alimenta. Dependemos de um cuidado e uma atenção integral neste momento. Dependemos de alguém que nos carregue no colo, que cuide de nossa higiene diária, que acalme a nossa angústia, que nos insine a andar, a comer, a ir ao banheiro, a termos limites. Enfim, somos seres necessariamente dependentes!!!!!


Dependemos da escola, da família, da sociedade, da amizade, pois somos seres sociais, dependentes de uma comunicação para viver, de uma interlocução.


Portanto penso ser muito curioso quando na clínica escuto que há o medo da dependência do tratamento: - " Não quero ter de depender de você, da análise."  O bebê não opta por ser um indivíduo dependente, simplesmente é.


Deixo claro que é uma ilusão acreditarmos numa independência completa, ou seja, numa auto- suficiência.
Precisamos nos relacionar com o outro, com o mundo para prosseguirmos com a continuidade do ser, da vida, da sociedade, caso contrário o ser humano se extinguirá da Terra.


Quando o sujeito verbaliza o seu medo da dependência da análise, do tratamento, ele está absolutamente coerente com a realidade, pois há uma dependência inicial, assim como ocorre com o bebê, para conseguir alcançar a sua independência, ou como costumamos aceitar melhor, conseguir andar sozinho caminhando com os seus próprios pés.


Quando nos deparamos num primeiro momento com a questão "dependência", logo buscamos reagir contra, por acreditarmos se referir a uma prisão, a uma amarra sufocante que nos paralisa diante da vida, que nos impede que sejamos indivíduos únicos no mundo.


Há também uma negação, uma rejeição de um desejo primitivo ao retorno da relação mãe- bebê. Uma relação exclusiva, simbiótica, na qual vivíamos como "reis" ou "rainhas" num mundo todo nosso, todo poderoso que comandávamos tudo e todos, assim vivenciávamos em nossas fantasias. A impressão deste mundo retorna, inconscientemente, em muitas situações de nossas vidas, quando sentimos a falta de um "colo", de uma proteção, um afago, carinho, quando aparece o sentimento de posse, ou de ciúmes, inveja, onipotência.


A dependência estando o sujeito em análise ou não, ela circunda e predomina a vida, dependendo da situação e de cada indivíduo, dependerá também a sua intensidade. O conceito que se aferrenha de que a psicanálise deixa o indivíduo dependente do analista (mãe) não possui uma comprovação teórica e nem prática.


A dependência está intrínseca na relação dual, dentro ou fora da psicanálise, do setting analítico. Neste setting a dependência é necessária, assim como ocorre inicialmente com o bebê que se mistura com a mãe, sendo portanto a mãe como sua extensão, e não um ser à parte dele. Com um desenvolvimento saudável a criança começa a visualizar a mãe como um ser distinto dela e vice-versa, começa a andar, a comer, a fazer sua higiene sozinha, e prossegue com uma autonomia.


Assim é com a psicanálise, o sujeito começa como um bebê que necessita dos cuidados maternos exclusivos e intensos, sendo aos poucos possível o seu desenvolvimento, o seu crescimento e independência, ou seja, uma maior condição de enfrentamento do mundo tanto externo quanto interno.


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