Bem Vindo

Um espaço para troca de experiências, reflexões, dúvidas referentes ao universo dinâmico e surpreendente do inconsciente.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Mãe de Primeira Viagem

Este assunto é dedicado às mães, que como eu, enfrentam este universo dinâmico, amado e odiado, amigável ou não, confortável ou desconfortável, mas revelador, único e engrandecido na sua primeira vivência. Ter a minha bagagem teórico-prática profissional contribue por me manter em conexão permanente com a minha essência, o contato com meu mundo interno, contactando o estar fora de mim, mas estreitamente ligado, o bebê, o meu filho.

Sendo assim, compartilho com as mães e inclusive os pais, um pouco da experiência e aprendizagem adquiridos em bibliografia e no aparato subjetivo estabelecido.

Quantos sentimentos envolvidos, quantas providências à tomar? Prepara-se o enxoval "dos sonhos", a mudança do quarto com sua decoração pertinente e mobílias adequadas, atenta-se para as revistas com fotos lindas reluzentes de mães com os seus bebês calmos, afáveis, harmoniosos, em plena sintonia, tudo perfeito, organizado, um sonho, uma idealização, uma esperança, uma expectativa pela chegada do filho, neste lindo quadro retratado.

Enfim, nasce um ser, um filho, uma vida, uma mãe, uma dupla. Apresenta-se o quadro, mas está com manchas, um pouco nebuloso, escuro, não condiz com o descrito anteriormente, sem falhas, lindo, claro. Uma nova etapa surge para a mulher-mãe, com medos, desespero, perdida, sozinha, mas também, mais madura, mais crescida, pois é mãe.

O bebê, ou seja, a sua majestade, o rei, apresenta-se "caótico", desorganizado psiquicamente, buscando reconhecer a nova realidade, o novo mundo divergente do seu mundo de antes, confortável, seguro, protetor. O enfrentamento desta realidade é vivido pela mãe e o bebê, com o primeiro encontro verdadeiro da amamentação que estabelece a relação dual,  não possibilitando um terceiro elemento envolvido. Por ser importante este encontro, é necessário que a mãe se restabeleça do parto, deixando a primeira noite o seu filho no berçário. Estando descansada, mais revigorada, encontra-se plena oferecendo um maior acolhimento e serenidade necessários para o estabelecimento de uma bela relação. Portanto, um outro conselho é vetar a intromissão de pessoas no momento em que está amamentando, pois parece que anseiam em participar desta relação, focando o olhar no seu peito, observando a condução oferecendo "conselhos" quando acreditam que o bebê não mama, ou não sai o leite suficiente, ou não pega o peito, enfim, uma vasta onda de intromissão inundando o universo afetivo da mãe, prejudicando a harmonia da parceria.

Considero os três primeiros meses do bebê de maior enfrentamento para o bebê e para a mãe, compreendido pela adaptação da nova vida, pelas mudanças, limites, pela relação incondicional, o esgotamento físico e emocional, além do corriqueiro trocar fraldas, dar peito, cólicas, trocar fralda, dar peito, choro, trocar fralda, dar peito, desepero.

A solidão faz parte do universo materno, com tantas madrugadas em claro com o meu bebê, encontrava refúgio na fantasia que vislumbrava ao ver pela minha janela, outras janelas acesas em outros prédios que eram outras mães alimentando seus filhos. Acreditar que tem pessoas vivendo esta mesma situação, ajuda a amenizar a dor de estar sozinha, desamparada.

Na maternidade a ambivalência está atuando frequentemente, os sentimentos de amor e ódio, de cuidar e ser relapsa, querer estar junto e depois se afastar, assim como feliz pelo momento, mas saudosa e melancólica com o passado relembrando a liberdade, o ser individual, "sem lenço e nem documento", o ser apenas filha.

Diante desta constatação, surge a culpa, o remorso, já que ninguém lhe contou esta versão da história, talvez por esquecimento, ou até negação, conhecíamos somente aquele lindo quadro pintado, colorido, uma imagem perfeita, amorosa, harmoniosa. "Não sou uma boa mãe. Tenho dificuldade, as vezes tenho raiva." Não existe mãe ideal, nem bebê ideal, somos mães reais com os nossos bebês reais, e é assim que tem que ser. Vivemos num mundo real!!!! com seus defeitos, peculiaridades, diferenças, manchas, imperfeições, que são moldados e modelados por nós, mães, através deste vínculo tão estreito, simbiótico organizado pelo bebê nesta fase. 

2 comentários:

  1. Muito bom Vani!!!
    E veio bem a calhar... Noites em claro, trocas de fraldas, solidão, choro, desespero, amor, ódio, culpa, saudade, são coisas que estou vivendo e sentindo neste momento da minha vida. E, realmente, ninguém tinha me contado que era assim, ou se tinha, não havia entendido.
    Nossa vida (mães) muda de um dia para o outro, é uma mudança gigantesca, brusca, os 9 meses não nos preparam para ela...
    E é mesmo duro enfrentar os olhares para seu peito, o pior, durante a amamentação.... não nos dão o direito à privacidade. O peito vira um bem público, todos olham e comentam sobre ele, só falta pegarem no seu peito...
    Bom, obrigada!!
    Continue a nos passar a sua experiência como mãe, para nos ajudar a enfrentar o que vem pela frente!!
    Beijos, Beta

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  2. obrigada pelo comentário. Continuarei a experiência. Beijos.

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