Bem Vindo

Um espaço para troca de experiências, reflexões, dúvidas referentes ao universo dinâmico e surpreendente do inconsciente.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

O Filho Não Me Pertence Apenas:

Chegou o momento de retomar a rotina anterior ao nascimento do bebê, que seja o trabalho, o estudo, ou um outro projeto ou interesse iniciado, ou desejado e adiado até então. Mas algo mudou; foi o sentimento, o estímulo, foi a chegada de uma nova vida, e realmente nova!!!! Não somos mais as mesmas, estudantes, profissionais, mercantilistas, individualistas, amantes apenas,...., somos MÃES também e principalmente.


Apesar do cansaço da nova rotina, das noites mal dormidas, da refeição que esfria no prato, ou não consumida inteiramente, tem-se a sensação de bem estar, de completude, de um colorido vivo no dia-a-dia. O prazer de acompanhar o seu bebê, de alimentá-lo, acalentá-lo, reconfortá-lo na dor, na fome, no desespero cria uma sensação de força, grandeza, de suficiência, de poder, até antes nem imaginável, apenas na fala de nossas mães.


Mas a vida prossegue, o tempo não pára, o ser humano cresce, amadurece e sai para a sua exploração ao mundo, vai em busca de algo externo, movimenta, se desprende, até retornar ao início de uma vida e tudo começa de novo. Assim aconteceu conosco, mães e acontecerá com os nossos filhos. Somos auxiliadoras de vidas que serão entregues ao mundo, não nos pertencem, por mais dolorido esta realidade.


A dificuldade deste enfrentamento encontramos em várias famílias, em vares lares, com crianças de quatro anos usando ainda chupeta, ou presas a fralda, ou ainda buscando o peito para o alívio de suas angústias e temores. Crianças que não conseguem crescer pela contribuição das mães ou seus responsáveis que temem a separação, a perda do vínculo afetivo, emocional.


Encontramos diversas justificativas plausíveis, racionais que impedem a retomada de nossas vidas individuais, particulares. Queremos permanecer "grudadas", juntadas em nossos filhos, em nossos bebês. Acreditamos que o retorno de nossas atividades pode até matá-los pela nossa ausência física, já que ninguém é tão suficientemente bom como nós. Ninguém oferecerá a proteção, o carinho, o conforto, o acalento e até o alimento suficiente para a existência e bem estar do filho. A consequência desta crença se projeta naquelas crianças crescidas cronologicamente mas pequenas emocionalmente.


Um exemplo pode ocorrer no desfralde, no momento do aprendizado do tirar a fralda, que pode ser um processo rápido, fácil, ou difícil e demorado, já que a angústia envolvida contribue neste processo de amadurecimento e consequente separação da relação filho e mãe. A criança inicia o seu primeiro dia sem fralda, acompanhado de muitas roupas sujas, muitas trocas, ou seja, muito trabalho. No fim de semana, a mãe para o seu conforto e o da criança (em sua concepção), decide recolocar a fralda evitando imprevistos "desagradáveis" na rua, pensando pela falta de sanitário, ou inclusive visando uma higienização adequada.


Intelectualmente a mãe encontra respaldo para a sua negação perante o crescer do filho, e assim o seu afastamento dela, já que as necessidades dele não dependem mais tanto da sua ajuda e presença constantes. Emocionalmente, a mãe está retardando e até impossibilitando esta criança de viver no mundo além, e inclusive sem ela, através desta pequena ação tão bem justificada e compreensiva racionalmente.


E assim ocorre com as mães que podem adiar ou até mesmo não retornar às sua atividades pessoais, arrumando justificativas que privilegiam o bem estar do seu filho. A verdade é que após o surgimento desta nova vida, sempre estaremos atreladas nestas desculpas, pois hoje é o desmame, depois o desfraldar, amanhã será o trabalho da escola, ou as aulas particulares, ou o esporte, a natação, o balé, a faculdade, e continua..... Portanto é necessário e saudável nos desprendermos em parte liberando a outra parte para a vida, o mundo. Podemos ser boas mães verdadeiras, e boas profissionais, mulheres. É possível buscar um equilíbrio, um meio termo, auxiliando e libertando o nosso filho das nossas amarras, medos, angústias e superproteções, relembrando que na verdade ele não é meu, pelo menos não apenas, mas pertence inclusive e necessariamente ao pai, aos avós, à babá, à empregada, à professora, à escola, à sociedade, ao mundo.


Um comentário:

  1. Estou vivendo esse difícil momento, que é a retomada da outra parte da minha vida... ´Depois de 6 meses, 24 horas por dia com ele, intensamente vividos...
    Você tem razão quando fala da importância desse retorno e que eles não nos pertencem.
    Acho que temos que dar o que temos de melhor para criá-los e os melhores exemplos e isso inclui a retomada da nossa vida.
    Muito obrigada pela postagem.
    Bjs.
    Beta

    ResponderExcluir