Bem Vindo

Um espaço para troca de experiências, reflexões, dúvidas referentes ao universo dinâmico e surpreendente do inconsciente.

sexta-feira, 11 de março de 2011

O Crescer:

O desmame é o início do desenvolvimento do bebê, assim como o engatinhar, o balbuciar alguns sons, a dentição, o andar, como o  parto é o desligamento necessário em favor de uma nova possibilidade. O bebê terá que abandonar, romper com o seu habitat confortável, protegido em prol da continuação de sua existência, pois a permanência no corpo da mãe causará o seu falecimento. Significa a morte de um estado conhecido em favor da vida, da continuação do existir.


O crescer, o desenvolver acarreta perda, desligamento de uma condição conhecida para uma situação nova,  uma sucessão de partos que a mãe enfrentará com o filho pela vida. O engatinhar é a perda de uma dependência  para o ganho do movimento, de uma autonomia, de uma nova conquista. Para a mãe uma  felicidade e um receio desta independência, uma sensação de vazio, de perda. Antes coordenávamos, controlávamos aonde o nosso bebê estaria, ou melhor dizendo sempre junto da nossa companhia, agora ele escapa deste olhar decidindo aonde deseja estar, se locomovendo em busca de outros interesses "além peito".


Para o bebê crescer, buscará outras ligações fora do mundo "interno mãe", portanto não olhará apenas para o seu peito quando mamando, mas também para um outro objeto sendo colorido, vivo, diferente até então para o seu olhar. E quanto mais estímulos puder captar, maior será o seu  crescimento. Com este novo interesse do bebê, a  mãe sente que está perdendo o espaço com o seu filho, e ressente-se da perda do seu amor por não querer se separar. O bebê também teme a separação, não quer perder a mãe e resisti, à princípio, a nova situação.


O retorno à vida laborativa da mãe é uma separação do vínculo exclusivo com o bebê, gerando angústia, sofrimento e culpa pelo rompimento, apresentando dificuldades em dividí-lo com uma outra pessoa ou instituição adequada. A mãe sente-se em conflito, com culpa, por ser egoísta acreditando em abandonar o filho para viver sua própria vida, deixando de perceber que na verdade está criando uma maior condição de vida para o bebê, tornando-o um ser social ao se relacionar com outras pessoas, permitindo desenvolver uma segurança, confiança, bem estar com o mundo externo.







Quando a mãe não se desamarra de sua culpa e medo perante a separação, não permite também que o seu bebê cresca, sendo um ser vivente no mundo social, preconizando-o como hostil, cruel, imperfeito, inseguro para ser habitado. Eventualmente a mãe evita em confiar o seu filho com outras pessoas alegando não serem boas o suficiente, o resguardando de possíveis frustrações e falhas. A consequência se revelará no futuro, com um indivíduo introvertido, inseguro, imaturo no seu desenvolvimento emocional, com dificuldade em enfrentar e aceitar as mudanças necessárias impostas pela lei natural da vida. 


O rompimento é imprescendível para o amadurecimento, apesar de carregar uma certa quota de sofrimento pela sensação de uma perda. Mas como crescer sem romper, sem deixar para trás uma disposição conhecida, agradável e confortável até então? Para o bebê ingressar na alimentação sólida, terá que reduzir a ingestão do seu conhecido leite materno; assim como para andar, abrirá mão do seu engatinhar; como no falar, precisará de estímulo que o provoque para tal.


Nesta interface, a mãe se apresentará como a figura facilitadora, propensa em defender o crescimento, ou como a figura controladora, possessiva que preza o vínculo simbiótico. Pode forçar a fala do bebê, não respondendo de prontidão quando ele aponta para um objeto que deseja, ou então devido ao cansaço do dia, sede de uma vez, não abrindo campo para a sua expressão. Cria estímulo para o engatinhar através de brincadeiras, colocando um objeto atrativo longe do seu alcance encorajando sua locomoção em direção a, ou apenas deixa ao acaso interferir para não perder o conforto e a segurança da velha e conhecida relação.


 

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