Bem Vindo

Um espaço para troca de experiências, reflexões, dúvidas referentes ao universo dinâmico e surpreendente do inconsciente.

terça-feira, 15 de março de 2011

O Ser Frágil:

Quando visualizamos aquele ser tão pequeno, tão sereno dormindo, com as respectivas dobrinhas, sem os dentinhos, tão dependente de cuidado e atenção, imediatamente um sentimento  invade inundando a nossa maneira de ser, de agir, nos tornando absurdamente melindrados com tudo ao nosso redor,  os maiores perigos inimagináveis, exagerados, absurdos, mas que agora pertencem ao nosso contexto coerente, lógico do campo "fragilidade".


Há uma identificação da mãe com o bebê, uma parte interna com aspectos infantis, regredidos, reconhece e contacta a parte bebê externa real, concreta. Por se sentir frágil, desamparada, solitária, amedrontada, insegura, transfere estes sentimentos para o bebê  frágil, fraco, "quebrável" como um boneco, que ao tomá-lo em nossos braços, com todo o cuidado e muitas vezes sem jeito, seguimos todos os protocolos necessários de segurança recomendados durante os nove meses de gestação. Ainda assim, não alcançou um ideal já que ouvimos: "cuidado com a cabeçinha dele! Precisa apoiá-la." ; ou então " Cuidado com os braçinhos!!! Melhor colocar um agasalho por causa do sereno, vai se resfriar!!!!" ; e continua.....


Existem os cuidados primários necessários com o recém nascido, como com a higiene, manter a cabeça segura, devido a sua imaturidade fisiológica. Mas conseguimos enaltecê-los com a vinda e a presença do bebê, pois sentimos a falta deste cuidado, desta atenção primária prestada inteiramente à um outro ser. Apesar do amor incondicional, mantemos o nosso status de ser mulher, ou ainda de sermos filha narcísica com sentimentos bons e maus, amando e odiando concomitantemente o momento, a circunstância, o outro.



 Temos urgência em cuidar do nosso filho de um perigo eminente, de uma agressão possível externa. Parece que precisamos protegê-lo da nossa raiva, da nossa agressividade de filha que em parte não abandonamos inteiramente para sermos mãe, e por muito tempo alternaremos entre as duas figuras, quando acordamos o nosso marido à noite para podermos dormir um pouco, ou exigimos que troquem a fralda do nosso filho, que o coloque para dormir, e até dar de mamar. A ajuda, a colaboração do marido é muito bem vinda e fundamental para mantermos a condição física e emocional do prosseguimento com a maternidade. Pode-se recair na figura- filha, mas não permanecer, não se fixar nela já que a nova realidade nos impõe a necessidade em apossarmos do ser mãe.



Uma fragilidade que projetamos, ou melhor dizendo, colocamos no nosso bebê por ser mais conveniente, mais aceitável  para nós. A mãe não é uma figura frágil, fraca, e sim, forte, poderosa, acertiva, que tudo resolve, e tudo enfrenta em nome do amor incondicional, assim vislumbramos. Precisa abarcar todas as funções, além desta, como ser também esposa, mulher, profissional, e no final manter uma satisfação e disposição por ter cumprido toda a tarefa demandada. Este ideal não condiz com o mundo real, assim como a crença de um bebê frágil sem recursos de vida também não é verdadeira.








Há pouco tempo, houve uma situação muito angustiante, mas o seu final foi emocionante e esperançoso. Um recém-nascido encontrado por bombeiro agarrado num galho de uma árvore, para não se afogar, dentro de um rio. Um bebê com imenso instinto de vida, apesar de ter sofrido abandono, rejeição da mãe, e portanto, com todos os motivos para se deixar morrer, para se abandonar. Lutou com toda a sua "pequenês", com toda a força que lhe é adquirida contra a morte, contra a agressão que sofreu, em prol da saúde, do futuro, da vida.


Este pequeno mas enriquecedor exemplo mostra que o bebê não é frágil na concepção que colocamos de um ser intocável e indefeso, deixando claro que ele  permanece dependente e imaturo.  Precisa de cuidados básicos e assistência para permanecer vivo, assim como carinho, afeto, amor, dentro de um equilíbrio, de um contexto pertinente, pois além disso, refere-se a uma necessidade e falta da mãe que busca satisfazer e compensar no filho. Uma fragilidade pertinente a mãe necessitando de cuidado e atenção.

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