Cada vez menos encontramos pessoas educadas ao nosso redor, seja na sociedade, na rua, no trânsito. Pessoas narcísicas, individualistas, competitivas ao extremo que não avaliam os seus atos para atingirem os seus objetivos, como se o "mundo girasse ao seu redor", literalmente falando. A rua, a calçada, a fila do banco ou do supermercado, a entrada do edifício, da escola, a vaga do estacionamento no shopping, enfim, o outro é apenas um invasor do seu espaço, do seu território, e tem que ser devastado, exterminado de vez.
Parece exagero ao ler, mas é a pura externalização do que está por detrás deste comportamento tão mesquinho e egoísta. Ninguém está isento de sentir, de desejar não reprimir, não ceder ao aspecto tentador e enaltecido narcisismo, mas não necessariamente precisamos realizá-lo de fato. O desejo, a fantasia, faz parte e é aceitável enquanto tal. Poder satisfazer os nossos impulsos e desejos sempre que necessário, da maneira que bem nos agrada sem a preocupação em desagradar o outro; é a realização!!!! Será??
Como é o mundo infantil? Parece ser exatamente o que descrevi acima. Um mundo, a princípio, narcísico, individualista, "todo poderoso", egocêntrico, egoísta. O bebê faminto chora, ou se desespera até sua fome ser saciada pela vinda do peito. A criança quando frustrada, berra, grita, ou joga objetos no chão, ou bate, como forma de demonstrar sua insatisfação e/ou até conseguir o seu objetivo do adulto impaciente ou cansado de lidar com os ataques desmedidos.
A criança não tem muita censura no falar, no agir, podendo muitas das vezes envergonhar o adulto por seus comentários, por sua inocência, sua despreocupação com o outro, a sua falta de cuidado, atenção e crítica que ainda não lhe foi apresentada. A educação é esta noção transmitida acerca da existência de um mundo externo, de um limite, de um outro além do "eu", do convívio social, da relação interpessoal; é o amor. E a sua transmissão não é restrita ao falar apenas, mas e principalmente, a maneira que o adulto também lida com este "outro", com esta noção do externo.
Portanto se não abrimos mão do nosso aspecto infantil, filhas (os) de sermos, isto é, narcísicos, não somos verdadeiros exemplos de educação e ensinamento para os nossos filhos, apenas referências falsas e mentirosas de estar no mundo. E a mentira pode surgir como algo a ser propagado, já que pertence aquela figura tão amada e idolatrada do pai, da mãe.
Pequenos atos que consideramos sem importância, sem malícia, podem se tranformar em atos anti-sociais, distúrbios de comportamento. Com a mentira a criança busca refúgio para as suas insatisfações, frustrações, possíveis punições por algum comportamento inadequado pelo medo de perder o amor dos pais. Pode recusar em admitir a responsabilidade por quebrar um objeto de valor em casa, até a culpar um irmão, ou irmã pelo ocorrido, e assim, se desenvolve.
Em vez do clássico comportamento "deixa pra lá. Não foi nada. Criança é assim mesmo...", vamos buscar compreender o que a levou a tal conduta? Pode ser o medo da rejeição, da perda do amor, pode ser a repetição de um comportamento de um dos pais, ou ambos; ou outro motivo interno e individual para tal. Necessitamos sinalizar e atentar que este comportamento não é adequado, não é um bom recurso à saída, ou tentativa de resolução de um conflito, de um sofrimento.
As primeiras identificações criadas são com os pais, portanto a sua fala, o seu gesto, o seu ato, o seu temperamento é muito bem absorvido e admirado pela criança pequena. Por aquele menino que quer ser o pai, forte e grande quando crescer, que finge fazer a barba, brinca de luta, joga futebol; ou a menina que já experimenta os sapatos da mãe, penteia o cabelo e pinta as unhas, repete a sua forma de falar ao telefone ou com o marido, para se parecer com ela, pois a ama, a idolatra, deseja ser ela, ter o que ela tem.
Portanto dizer: "por favor", "obrigado", assim como dá a preferência aos idosos na fila, respeitar os mais velhos, evitar palavras de baixo calão, não ser sincero em demasia pensando em não ofender o outro, são alguns exemplos de atitudes que podemos ter e repassar para os nossos herdeiros. Quem sabe construímos um lugar melhor de se viver? Depende de cada um, e se começa em casa.
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